quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Dadá, Arte e Antiarte - Resenha


Richter Hans, DADÁ, Arte e Antiarte – 1964 – Alemanha
Título original: Dada: Kunst und Antikunst - Arte moderna - século 20
Tradução: Marion Fleischer

1. Características do DADÁ ou da ANTIARTE:

O DADÁ colheu a confusão que semeou, mas essa confusão era pretexto.” (pág. 3)

- Contradições: arte – antiarte, positiva – negativa, moral - amoral
- Confusões com a pretensão de ser oposição
- Provocações contra a burguesia
- Estilo Polemico-literário barulhento
- Revolução nem tão polêmica nas Artes Visuais
- Busca pela Liberdade e novas formar de ser e estar no mundo
- Entusiamos e alegre desprezo pela banalidade
- Independência Espiritual
- Guerra Ideológica por uma nova ética artística
- Atitudes anárquicas enquanto movimento
- Sua busca resumia-se a pergunta PARA QUÊ, PARA ONDE?

- Arte como ação subversiva e denunciativa:

“A confusão do DADÁ era um pretexto. Nossas provocações, demonstrações e oposições constituíam tão somente um meio de atiçar a raiva do burguês filisteu e, através da raiva, induzi-lo a um despertar envergonhado.” (pág. 3)



- Fenômeno natural, como os occupy's:

“Dadá não significou um movimento artístico no sentido tradicional: foi uma tempestade que desabou sobre a arte daquela época como uma guerra se abate sobre os povos. Esta tempestade descarregou sem aviso prévio, numa atmosfera abafada de saciedade... e deixou atrás de si um dia novo, no qual as energias que se concentravam no dadá e dele emanavam se documentavam em formas novas, materias novos, ideias novas, direções novas, pessoas novas, assim como se dirigiam as pessoas novas.” (pág. 3)

- DIFICÍSMO, sem rótulos nem categorias:
Não possuía como noutros movimentos artísticos, características formis uniformes; distinguia-o porém uma nova ética artística que origina novas formas de expressão.

“É compreensível que os historiadores da arte, acostumados a trabalhar, por razões do ofício, com as características formais de determinados períodos estilísticos, não soubessem o que fazer com a complexidade contraditória do movimento dadaísta.” e “Os peritos em arte definem o Dadá como um 'estado transitório das artes'. Os jornalistas consideram o barulho que o Dadá provocou como sua essência.” (pág. 4)

Expressões contraditórias:
Positiva – Negativa
Arte – AntiArte
Moral – Amoral


- Anarquia enquanto modelo de grupo:

“O DADÁ, em oposição a outros estilos, não possuía características formais uniformes. Distinguia-o, porém, uma nova ética artística, a partir da qual posteriormente, de maneira, na verdade inesperada, nasceram novas formas de expressão. Esta nova ética encontrou as mais variadas expressões nos diversos países e nas diversas individualidades, dependendo do cerne, do temperamento, da procedência artística e do nível artístico de cada dadaísta. Ora ela se manifestava de maneira positiva, ora de modo negativo, às vezes como arte e outras vezes como negação da arte; ocasionalmente profundamente moral e por vezes completamente amoral.” (pág. 3 e 4)

- Até entre os dadaístas era difusa a definição do que era o Dadá:

“Cada um definia-o a partir de convicções estéticas próprias moldadas por sua nacionalidade e por suas próprias preferências. Foi assim que o Dadá se tornou um mito.” (pág. 4)
Verdade cênica do movimento:

“Nenhum de nós pretendeu que o Dadá fosse algo 'para a eternidade'. Pelo contrário, o que nos interessava era O MOMENTO, e VIVÍAMOS O PRESENTE.” (pág. 5)


2. DADÁ em Zurique (1915-1920):

- Onde nasceu o Dadá?

“Em 1909 futuristas italianos publicaram manifestos que se assemelham ao Dadá.”

“Claude Riviere diz que Picabia em 1913, na região do Jura teria encontrado indícios do que depois foi chamado Dadá.” (pág. 7)

“Este movimento, que, progressivamente, foi aglutinando outros, nasceu em Zurique, no Cabaré Voltaire, em inícios de 1916.” (pág. 8)

- O cenário que propiciou o inicio do movimento em Zurique contava com a situação neutra da Suíça em meia a 1a Guerra Mundial. Zurique se encontrava no centro da Não Guerra.

“Essa atmosfera compacta foi a condição básica para que pessoas essencialmente diferentes umas das outras se reunissem numa ação comum.”

- O fato mais importante nessa anarquia toda é o magnetismo emanado pelos integrantes do movimento:

“Por volta de 1915-16, em toda parte e nos mais diversos lugares do mundo, manifestações semelhantes ao Dadá vieram a luz do dia ou da noite,... Mas apenas UMA ÚNICA destas manifestações se tornou movimento, graças aquela magia das personalidades e das ideias que aparentemente é indispensável para a formação de um movimento.” (pág. 8)


2.1. Dadaístas:

- Hugo Ball 1915 – filosofo, poeta, jornalista, mistico, cabaretista, romancista e
- Emmy Henning – cantora e poeta – esposa de Hugo Ball com o qual fundam o Cabaré Voltaire.
Ball tocava piano enquanto Emmy alternava cantos populares com canções de prostitutas.

Em 1927 o casal escrevem em seus diários a “Fuga do Tempo” p.9
Mais tarde renunciam completamente a vida dadaísta e vai viver em um vilarejo ajudando pessoas ainda mais pobres que eles. p.10
14 anos após a morte de Ball as pessoas ainda falavam com admiração e amor de sua honestidade e bondade. Ball empenhou-se numa busca implacável de um sentido que pudesse ser contraposto à ausência de sentido da época. p.11


Outros Dadaístas em Zurique:

- Arp
- Tristan Tzara
- Richard Huelsembeck - médico-poeta
- Georges Janco
- Marcel Janco - pintor
- Edgar Varese – musico barulhista
- Russolo – musico Barulhista
- Serner
- Christian Schad de Chirico
- Jawlensky
- Helbio
- Luethy
- Richter

Dadaístas em Berlim:

- Raoul Hausmann “arquichefe” do movimento em Berlim acreditava ter sido ele o descobridor do DADÁ em 1915.
- Hans Richter – publica este livro 50 anos depois com base no diário de Ball: “Ninguém conseguiu chegar, nem de modo fragmentário, a formulações que, na sua clareza, se aproximassem das de Ball, o poeta e pensador.” p.11

Em NY:

- Picabia
- Duchamp




2.3. Onde nasceu Dadá?

- A magia das personalidades de Zurique estimuladas pelo mote não-guerra fazem surgir o Dadá em Zurique em1916.
- ClaudenKiviere diz que Picabia na Região do Jura teria dado indícios do que depois foi chamado Dadá em 1913.
- Em 1909 futuristas italianos publicaram manifestos que se assemelham ao Dadá.

2.4. Ações, expressões e táticas e peculiaridades dadaístas que ocasionam o crescimento do movimento:

Como surge o Cabaré Voltaire:

“Em 1º de fevereiro de 1916 Ball fundou o Cabaré Voltaire. Ele havia feito um acordo com o proprietário do Boteco Meierei, o sr. Ephraim, no Niederdorf, um bairro mal-afamado na bem-afamada cidade de Zurique. Através de um cabaré literário, assim prometia Ball ao sr. Ephraim, as vendas de cerveja, salsichas e sanduiches haveriam de melhorar. Emmy Hennings cantava chansons, Ball a acompanhava ao piano. A personalidade de Ball imediatamente atraiu um grupo de artistas e correligionários, que corresponderam plenamente às esperanças nutridas pelo dono da taverna.” p.11

A fim de compreendermos o clima no qual Dadá nasceu, será necessário relembrar que, na época, reinava em Zurique, apesar da Grande Guerra. O Cabaré Voltaire fazia suas apresentações e seu barulho na Spiegelgasse nº 1. No lado oposto, na Spiegelgasse nº 12, morava Lenin.”p.11

Notícia de jornal de 2 de fevereiro de 1916: 'Cabaré Voltaire. Sob este nome estabeleceu-se um grupo de jovens artistas e literatos cujo objetivo consiste em criar um centro para o divertimento artístico. De acordo com o princípio estabelecido pelo cabaré, nas reuniões diárias deverão realizar-se apresentações musicais e recitais dos artistas convidados. O cabaré exorta todos os jovens artistas de Zurique para que compareçam com sugestões e contribuições, sem se preocupar com esta ou aquela orientação artística.” p.12


Sentimento AntiGuerra motivava a criação:

Enojados pela carnificina da guerra de 1914, entregávamo-nos, em Zurique, às belas-artes. Enquanto ao longe troavam os canhões, nós cantávamos, pintávamos, colávamos e fazíamos poesia a mais não poder. Buscávamos uma arte elementar, que pudesse curar o ser humano da loucura de sua época, e procurávamos uma nova ordem que fosse capaz de estabelecer o equilíbrio entre o céu e o inferno. Sentíamos que haveriam de surgir bandidos, os quais, no desvario do poder, iriam utilizar-se até mesmo da arte para estupidificar seres humanos.” p.23


Barulhismo e forma radical contagiante:

“Campainhas, tambores, chocalhos, batidas na mesma ou em caixas vazias animavam as exigências selvagens da nova linguagem, na nova forma, e excitavam, a partir do físico, um público que inicialmente quedava atordoado atrás dos seus copos de cerveja. Pouco a pouco eram sacudidos e despertados de seu estado de letargia a tal ponto que irrompiam num verdadeiro frenesi de participação. ISTO era arte, isto era vida, e era isto o que se QUERIA.” p.17

É verdade que os futuristas já haviam introduzido o conceito e a técnica do barulho na arte (e nas suas apresentações). No âmbito da arte, deram-lhe o nome de barulhismo, um termo que Edgar Varèse, depois, elevou a nível musical. Ao fazê-lo, Varèse evidenciou-se como sucessor das descobertas de Russolo na música-barulho, uma das contribuições fundamentais do futurismo para a música moderna. Em 1911 Russolo tinha construído um órgão-barulho, no qual era possível reproduzir todos os barulhos – tão irritantes – do dia-a-dia...


Máscaras Africanas abstratas.

Para a nova soirée Janco executou uma série de máscaras que revelam grande talento. Elas lembram o teatro japonês ou da antiga Grécia, e no entanto são perfeitamente modernas. Concebidas para serem vistas de longe, elas produzem um efeito extraordinário no recinto relativamente pequeno do Cabaré. Todos estávamos presentes quando Janco apareceu com as máscaras, e imediatamente cada um de nós colocou uma no rosto. Aí aconteceu algo estranho. A máscara não apenas passou a exigir imediatamente a roupagem adequada, como nos ditou determinados gestos patéticos que beiravam, até mesmo, a loucura. Inesperadamente começamos a nos mover na maneira mais estranha, ornamentados e cobertos com os objetos mais impossíveis, um sobrepujando o outro com suas invenções. A força motriz daquelas máscaras invadiu-nos de uma maneira espantosamente irresistível. Subitamente compreendemos o significado destas máscaras para a mímica, para o teatro. As máscaras simplesmente exigiam que os seus portadores se movimentassem numa dança trágico-absurda. p.21

Poesia de Arp:

Em meio ao fortíssimo de Tzara e Huelsenbeck teria sido difícil ouvir os suaves sons de flauta do pintos alsaciano, se sua magia estranhamente intensa de sua personalidade e o charme infantil-sábio de seus poemas não lhe tivessem garantido um lugar ocasional em algumas pausas de respiração dos seus colegas barulhentos:

Kaspar está morto.

ai de nós, nosso bom Kaspar está morto.
quem irá agora ocultar a bandeira chamejante no
emaranhado das nuvens e diariamente
nos pregará uma pequena peça negra.
quem irá agora girar a moenda do café no tonel primevo.
quem atrairá a corça idílica do saco de papel petrificado.
quem assoa os navios guada-chuvas intérpretes do vento
pais de abelhas
fuzos de ozônio e retira as espinhas de pirâmides.
ai, ai, ai de nós, nosso bom Kaspar está morto, por todos
os santos, Kaspar está morto.
os tubarões soluçam e gemem de dor nos celeiros
repletos de sinos
quando se pronuncia o seu nome, por isso continuo a
suspirar, pronunciando o seu nome Kaspar Kaspar Kaspar.
por que nos deixaste, que forma assumiu a tua bela e
grande alma, te transformaste numa estrela ou numa
corrente de água banhada pelo vento quente, ou te
tornaste um úbere de luz negra ou uma telha transparente
junto ao tambor suspiroso da essência pétrea

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