Richter
Hans, DADÁ, Arte e Antiarte – 1964 – Alemanha
Título
original: Dada: Kunst und Antikunst - Arte moderna - século 20
Tradução:
Marion Fleischer
1. Características do
DADÁ ou da ANTIARTE:
“O DADÁ colheu a
confusão que semeou, mas essa confusão era pretexto.” (pág. 3)
- Contradições: arte –
antiarte, positiva – negativa, moral - amoral
- Confusões com a
pretensão de ser oposição
- Provocações contra a
burguesia
- Estilo
Polemico-literário barulhento
- Revolução nem tão
polêmica nas Artes Visuais
- Busca pela Liberdade e
novas formar de ser e estar no mundo
- Entusiamos e alegre
desprezo pela banalidade
- Independência
Espiritual
- Guerra Ideológica por
uma nova ética artística
- Atitudes anárquicas
enquanto movimento
- Sua busca resumia-se a
pergunta PARA QUÊ, PARA ONDE?
- Arte como ação
subversiva e denunciativa:
“A confusão do DADÁ
era um pretexto. Nossas provocações, demonstrações e oposições
constituíam tão somente um meio de atiçar a raiva do burguês
filisteu e, através da raiva, induzi-lo a um despertar
envergonhado.” (pág. 3)
- Fenômeno natural,
como os occupy's:
“Dadá não significou
um movimento artístico no sentido tradicional: foi uma tempestade
que desabou sobre a arte daquela época como uma guerra se abate
sobre os povos. Esta tempestade descarregou sem aviso prévio, numa
atmosfera abafada de saciedade... e deixou atrás de si um dia novo,
no qual as energias que se concentravam no dadá e dele emanavam se
documentavam em formas novas, materias novos, ideias novas, direções
novas, pessoas novas, assim como se dirigiam as pessoas novas.”
(pág. 3)
- DIFICÍSMO, sem
rótulos nem categorias:
Não possuía como
noutros movimentos artísticos, características formis uniformes;
distinguia-o porém uma nova ética artística que origina novas
formas de expressão.
“É compreensível que
os historiadores da arte, acostumados a trabalhar, por razões do
ofício, com as características formais de determinados períodos
estilísticos, não soubessem o que fazer com a complexidade
contraditória do movimento dadaísta.” e “Os peritos em arte
definem o Dadá como um 'estado transitório das artes'. Os
jornalistas consideram o barulho que o Dadá provocou como sua
essência.” (pág. 4)
Expressões
contraditórias:
Positiva – Negativa
Arte – AntiArte
Moral – Amoral
- Anarquia enquanto
modelo de grupo:
“O
DADÁ, em oposição a outros estilos, não possuía características
formais uniformes. Distinguia-o, porém, uma nova ética artística,
a partir da qual posteriormente, de maneira, na verdade inesperada,
nasceram novas formas de expressão. Esta nova ética encontrou as
mais variadas expressões nos diversos países e nas diversas
individualidades, dependendo do cerne, do temperamento, da
procedência artística e do nível artístico de cada dadaísta. Ora
ela se manifestava de maneira positiva, ora de modo negativo, às
vezes como arte e outras vezes como negação da arte; ocasionalmente
profundamente moral e por vezes completamente amoral.” (pág. 3 e
4)
- Até entre os
dadaístas era difusa a definição do que era o Dadá:
“Cada um definia-o a
partir de convicções estéticas próprias moldadas por sua
nacionalidade e por suas próprias preferências. Foi assim que o
Dadá se tornou um mito.” (pág. 4)
Verdade cênica do
movimento:
“Nenhum de nós
pretendeu que o Dadá fosse algo 'para a eternidade'. Pelo contrário,
o que nos interessava era O MOMENTO, e
VIVÍAMOS O PRESENTE.” (pág. 5)
2. DADÁ em Zurique
(1915-1920):
- Onde nasceu o Dadá?
“Em 1909 futuristas
italianos publicaram manifestos que se assemelham ao Dadá.”
“Claude Riviere diz que
Picabia em 1913, na região do Jura teria encontrado indícios do que
depois foi chamado Dadá.” (pág. 7)
“Este movimento, que,
progressivamente, foi aglutinando outros, nasceu em Zurique, no
Cabaré Voltaire, em inícios de 1916.” (pág. 8)
- O cenário que
propiciou o inicio do movimento em Zurique contava com a situação
neutra da Suíça em meia a 1a Guerra Mundial. Zurique se encontrava
no centro da Não Guerra.
“Essa atmosfera
compacta foi a condição básica para que pessoas essencialmente
diferentes umas das outras se reunissem numa ação comum.”
- O fato mais
importante nessa anarquia toda é o magnetismo emanado pelos
integrantes do movimento:
“Por volta de 1915-16,
em toda parte e nos mais diversos lugares do mundo, manifestações
semelhantes ao Dadá vieram a luz do dia ou da noite,... Mas apenas
UMA ÚNICA destas manifestações se tornou movimento, graças
aquela magia das personalidades e das ideias que aparentemente é
indispensável para a formação de um movimento.” (pág. 8)
2.1. Dadaístas:
-
Hugo Ball 1915 – filosofo, poeta, jornalista, mistico, cabaretista,
romancista e
-
Emmy Henning – cantora e poeta – esposa de Hugo Ball com o qual
fundam o Cabaré Voltaire.
Ball
tocava piano enquanto Emmy alternava cantos populares com canções
de prostitutas.
Em
1927 o casal escrevem em seus diários a “Fuga do Tempo” p.9
Mais
tarde renunciam completamente a vida dadaísta e vai viver em um
vilarejo ajudando pessoas ainda mais pobres que eles. p.10
14
anos após a morte de Ball as pessoas ainda falavam com admiração e
amor de sua honestidade e bondade. Ball empenhou-se numa busca
implacável de um sentido que pudesse ser contraposto à ausência de
sentido da época. p.11
Outros
Dadaístas em Zurique:
-
Arp
-
Tristan Tzara
-
Richard Huelsembeck - médico-poeta
-
Georges Janco
-
Marcel Janco - pintor
-
Edgar Varese – musico barulhista
-
Russolo – musico Barulhista
-
Serner
-
Christian Schad de Chirico
-
Jawlensky
-
Helbio
-
Luethy
-
Richter
Dadaístas
em Berlim:
-
Raoul Hausmann “arquichefe” do movimento em Berlim acreditava
ter sido ele o descobridor do DADÁ em 1915.
-
Hans Richter – publica este livro 50 anos depois com base no diário
de Ball: “Ninguém conseguiu chegar, nem de modo fragmentário, a
formulações que, na sua clareza, se aproximassem das de Ball, o
poeta e pensador.” p.11
Em
NY:
-
Picabia
-
Duchamp
2.3. Onde nasceu Dadá?
- A
magia das personalidades de Zurique estimuladas pelo mote não-guerra
fazem surgir o Dadá em Zurique em1916.
- ClaudenKiviere diz
que Picabia na Região
do Jura teria dado
indícios do que depois foi chamado Dadá em 1913.
-
Em 1909 futuristas italianos
publicaram manifestos que se assemelham ao Dadá.
2.4. Ações,
expressões e táticas e peculiaridades dadaístas que ocasionam o
crescimento do movimento:
Como surge o Cabaré
Voltaire:
“Em
1º de fevereiro de 1916 Ball fundou o Cabaré Voltaire. Ele havia
feito um acordo com o proprietário do Boteco Meierei, o sr. Ephraim,
no Niederdorf, um bairro mal-afamado na bem-afamada cidade de
Zurique. Através de um cabaré literário, assim prometia Ball ao
sr. Ephraim, as vendas de cerveja, salsichas e sanduiches haveriam de
melhorar. Emmy Hennings cantava chansons, Ball
a acompanhava ao piano. A personalidade de Ball imediatamente atraiu
um grupo de artistas e correligionários, que corresponderam
plenamente às esperanças nutridas pelo dono da taverna.” p.11
“
A fim de compreendermos o clima no
qual Dadá nasceu, será necessário relembrar que, na época,
reinava em Zurique, apesar da Grande Guerra. O Cabaré Voltaire fazia
suas apresentações e seu barulho na Spiegelgasse nº 1. No lado
oposto, na Spiegelgasse nº 12, morava Lenin.”p.11
“Notícia
de jornal de 2 de fevereiro de 1916: 'Cabaré Voltaire. Sob este nome
estabeleceu-se um grupo de jovens artistas e literatos cujo objetivo
consiste em criar um centro para o divertimento artístico. De acordo
com o princípio estabelecido pelo cabaré, nas reuniões diárias
deverão realizar-se apresentações musicais e recitais dos artistas
convidados. O cabaré exorta todos os jovens artistas de Zurique para
que compareçam com sugestões e contribuições, sem se preocupar
com esta ou aquela orientação artística.” p.12
Sentimento
AntiGuerra motivava a criação:
“Enojados
pela carnificina da guerra de 1914, entregávamo-nos, em Zurique, às
belas-artes. Enquanto ao longe troavam os canhões, nós cantávamos,
pintávamos, colávamos e fazíamos poesia a mais não poder.
Buscávamos uma arte elementar, que pudesse curar o ser humano da
loucura de sua época, e procurávamos uma nova ordem que fosse capaz
de estabelecer o equilíbrio entre o céu e o inferno. Sentíamos que
haveriam de surgir bandidos, os quais, no desvario do poder, iriam
utilizar-se até mesmo da arte para estupidificar seres humanos.”
p.23
Barulhismo e forma
radical contagiante:
“Campainhas,
tambores, chocalhos, batidas na mesma ou em caixas vazias animavam as
exigências selvagens da nova linguagem, na nova forma, e excitavam,
a partir do físico, um público que inicialmente quedava atordoado
atrás dos seus copos de cerveja. Pouco a pouco eram sacudidos e
despertados de seu estado de letargia a tal ponto que irrompiam num
verdadeiro frenesi de participação. ISTO era arte, isto era vida, e
era isto o que se QUERIA.” p.17
É
verdade que os futuristas já haviam introduzido o conceito e a
técnica do barulho na arte (e nas suas apresentações). No âmbito
da arte, deram-lhe o nome de barulhismo, um termo que Edgar Varèse,
depois, elevou a nível musical. Ao fazê-lo, Varèse evidenciou-se
como sucessor das descobertas de Russolo na música-barulho, uma das
contribuições fundamentais do futurismo para a música moderna. Em
1911 Russolo tinha construído um órgão-barulho, no qual era
possível reproduzir todos os barulhos – tão irritantes – do
dia-a-dia...
Máscaras Africanas
abstratas.
Para
a nova soirée Janco executou uma série de máscaras que revelam
grande talento. Elas lembram o teatro japonês ou da antiga Grécia,
e no entanto são perfeitamente modernas. Concebidas para serem
vistas de longe, elas produzem um efeito extraordinário no recinto
relativamente pequeno do Cabaré. Todos estávamos presentes quando
Janco apareceu com as máscaras, e imediatamente cada um de nós
colocou uma no rosto. Aí aconteceu algo estranho. A máscara não
apenas passou a exigir imediatamente a roupagem adequada, como nos
ditou determinados gestos patéticos que beiravam, até mesmo, a
loucura. Inesperadamente começamos a nos mover na maneira mais
estranha, ornamentados e cobertos com os objetos mais impossíveis,
um sobrepujando o outro com suas invenções. A força motriz
daquelas máscaras invadiu-nos de uma maneira espantosamente
irresistível. Subitamente compreendemos o significado destas
máscaras para a mímica, para o teatro. As máscaras simplesmente
exigiam que os seus portadores se movimentassem numa dança
trágico-absurda. p.21
Poesia de Arp:
Em
meio ao fortíssimo de Tzara e Huelsenbeck teria sido difícil
ouvir os suaves sons de flauta do pintos alsaciano, se sua magia
estranhamente intensa de sua personalidade e o charme infantil-sábio
de seus poemas não lhe tivessem garantido um lugar ocasional em
algumas pausas de respiração dos seus colegas barulhentos:
Kaspar
está morto.
ai de nós, nosso bom
Kaspar está morto.
quem irá agora
ocultar a bandeira chamejante no
emaranhado das
nuvens e diariamente
nos pregará uma
pequena peça negra.
quem irá agora girar
a moenda do café no tonel primevo.
quem atrairá a corça
idílica do saco de papel petrificado.
quem assoa os navios
guada-chuvas intérpretes do vento
pais de abelhas
fuzos de ozônio e
retira as espinhas de pirâmides.
ai, ai, ai de nós,
nosso bom Kaspar está morto, por todos
os santos, Kaspar
está morto.
os tubarões soluçam
e gemem de dor nos celeiros
repletos de sinos
quando se pronuncia o
seu nome, por isso continuo a
suspirar, pronunciando
o seu nome Kaspar Kaspar Kaspar.
por que nos deixaste,
que forma assumiu a tua bela e
grande alma, te
transformaste numa estrela ou numa
corrente de água
banhada pelo vento quente, ou te
tornaste um úbere de
luz negra ou uma telha transparente
junto ao tambor
suspiroso da essência pétrea
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